“Nada” de Carmen Laforet.
Escrito em 1944, quando a autora tinha 23 anos, quando de mudança para a casa da Avó em Barcelona, para iniciar um curso de letras na universidade local. Relata essa vivência com a família na casa da rua Aribau, na época da Guerra civil Espanhola, numa cidade e família decadente, e cheias de dificuldades.
Desta vivência com os familiares descobre intrigas e personalidades sombrias. Ela, cheia de expectativas, confronta-se com a realidade deste casarão, sombrio e malcuidado, com uma tia severa, uma empregada com plenos poderes e dois tios que se odeiam, e cujo principal ponto de discórdia, gira em torno de uma mulher. Descreve suas amizades e os interesses e decepções amorosos.
Escrita com muita sensibilidade, para nos fazer ouvir as indagações de uma jovem e seus sonhos, diante destas realidades diversas. Os conflitos psicológicos que se mesclam quando há o confronto com os medos e decisões, Os medos e angústias de toda s as mudanças, suas ansiosas expectativas diante de um mundo novo.
O título do livro “ Nada”, foi uma escolha sensível para nos mostrar que esse “nada” que ela nos fala, está na memória, na recuperação dos sentimentos profundos de reflexão de sua passagem, as suas transições, e entre ganhos e perdas, o que é que ficam destas viagens.
Há passagens poéticas deslumbrantes: “ um entardecer nos arredores da catedral, ouvi o lento cair de uma badaladas que tornavam a cidade mais antiga...” impressões poéticas que nos comovem com seu olhar, e reforçam seu estado interior de emoção.
A paisagem opressiva e triste desta jovem adolescente reforçam seu ser, impedindo-a de ser feliz e aumentar suas angústias quanto ao seus relacionamentos, mas no intimo, guardava um espírito forte e tenaz, com suas perspectivas de futuro e mudanças, que a levaram a partir e desejar novas alegrias, novas estabilidades contra a apatia, a amargura, a moral decadente e fria de uma família e de uma época opressiva.
Ela descreve no momento de sua partida esta interioridade sentida:
“Desci as escadas, devagar. Sentia uma viva emoção. Recordava a terrível esperança, o desejo de vida com que as subiria da primeira vez. Partia agora sem ter conhecido nada do que confusamente esperava: a vida em sua plenitude, a alegria, o interesse profundo, o amor. Da casa da rua Aribau não levava nada”.
Ao menos era o que ela pensou na época, e ao meu ver é este o balanço que fazemos ao partir, com nossas expectativas: - o que afinal trazemos na mala quando retornamos, quais mudanças e expectativas que acrescentamos a nossa jornada.
Uma leitura adorável deste romance realista existencial, que acrescentou muito as minhas férias, demonstrando que o tempo é poeta e traz suas memórias.
Tudo neste livro me comoveu. Tive a oportunidade de ver surgir uma poeta desconhecida, numa leitura que me agradou em muitos aspectos. Sua alegria formal, sua tristeza que não pede consolo, sua inteligência, sua doçura e sensibilidade em descrever uma parte de sua vida, mesclando o cotidiano e suas expectativas diante de uma família e de um histórico importante na Espanha durante a guerra civil Espanhola.
Adorei ter levado na mala.