Começaram a passar as estações sobre aqueles cabelos brancos. Ele, com os seus olhos azuis olhava o mundo, na solidão das montanhas e vales, nunca parou se pensar e sonhar, a rever com seus gestos todas suas trajetórias. E lá estava ele, onde uma refeição era servida, onde se faziam-se as pausas e servia-se o pão.
Via suas mão, enquanto gesticulava e contava suas histórias, e eram grandes, gastas, nodosas, como as de um homem que arou sua terra desde menino. A pele e o corpo vincado com a ternura de seu imenso coração.
Desvencilhava essa sua outra e bela natureza, está que tentava esconder, porque dizia tudo com o sofrimento de alma, carregado de incertezas, pronto a ver tudo com o seu olhar de quem dá tudo de si, e ficava como se não tivesse feito nada, descontente, desiludido.
O sol pairava sobre o seu lamento, e da janela onde andarilhas andorinhas vagavam, corriam e se aquietavam, nesse fragor de uma manha que renasce, cheirando a café e onde viajamos como se o sonho continuasse.
Ele ao pé da longa escadaria, entre velhas casas; onde as montanhas em volta marcaram seu retrato, com as marcas do tempo nos telhados , ele descia e se aprumava, lento, sem pressa para se encostar na parede onde ele disse ter assentado cada tijolo; ascendia o seu cachimbo e ficava.
Não se via ninguém , somente as pombas arrulhando o tempo e o espaço.
E, lá estava ele sentado na sua cadeira, nesta posição legítima de ter vivido o seu tempo, na vasta atmosfera dos seus pensamentos.
Olhei novamente do alto da janela onde o sol batia sobre aqueles cabelos brancos, e onde ele está vivo agora, bem pertinho, e onde habita o apito do trem e o cheiro do alecrim, feliz de quem pode reencontrar o fio da memória na sua vasta poesia de viver, onde agora, neste silêncio eu escuto.
Ao meu pai, falecido dia 25 de novembro de 2010
Ju Gioli
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7 comentários:
Olá, Ju, as lembranças são eternas se assim o quiseremos, só precisamos escolhe-las.
Só percebi a sombra que meu pai nos proporcionava, quando as folhas cairam.
abraço sincero.
Sei bem o que isso é. Bate com força e muitas vezes dói mais tarde... Bem mais tarde. Um abraço grande de sentidos pêsames.
lindíssimo texto. Beijos.
uma tranquila calma triste e um escrito tão sereno e belo.
um beijinho
Olá Jú,
O que dizer de tão serena lembrança. Uma "intocada" paleta. Bateu-me uma saudade misturada a minha realidade.
Sinto, sinto muito pela tua dor, pois nessa mora o mais puro amor.
Beijos,
Receba meus respeitos e admiração pela bela imagem que escreveste.
A construção, as vezes, começa com a fumaça da memória.
Um abraço.
uma bela homenagem Ju. Abraço
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