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Hiroshima, meu amor
Direção: Alain Resnais
Filme Franco-japonês de 1959
Roteiro: Marguerite Duras
A memória Inconsolável
Um filme que além de
introduzir inovação e perspectiva inusitadas,
ao expor novas maneiras de fazer (forma ) e de ver (significado) no
cinema e na vida, nos fala desta memória inconsolável, na reflexão sobre o tempo e as lembranças.
Baseado em texto do nouveau
Roman francês de Marquerite Duras, pleno de nuances e aspectos que abrangem
desde o fio temático: - o bombardeio atômico de Hiroshima, a presença dos
personagens que estão revendo o passado,
nesta unidade de tempo, mesclado de memórias e cenas reais.
É um filme (de e) sobre a
memória e o tempo, tratado de maneira visceral e contemporânea. Falando de um relacionamento entre um homem e
uma mulher, na possibilidade de convivência, solidificando os liames entre dois
seres humanos, e o que os podem unir como premissa de um encontro real e
significativo. E, como notas musicais, quando submetidos ao toque e
pressão dos dedos do pianista, que nos graus desta variação e sutileza,
revelam suas partituras únicas e seus tons, e nós como expectadores, vamos saboreando, sem saber ao certo o que
transmitem, ora vagos e silenciosos, ora
intensos e dramáticos.
Todos os contatos, expressões,
diálogos, atitudes e posturas, pautam-se por estas sutis tonalidades e
variações, e como acorde musical, na sua leveza, flexibilidade e
imponderabilidade, que à semelhança do pensamento, dos sentimentos e das
emoções, não se concretizam, mas revelam em outro estado de ser, porque assim a
memória se faz.
Os tempos amorosos dos
personagens revelam-se através dessas sinfonias, onde a junção passado e
presente interagem, incorporam-se no agora dos sentimentos, onde as
perturbações psíquicas pretéritas são retomadas, neste lugar da memória onde o processamento
poético permeia-se de indagações e angustias do vivido.
A primeira frase que se fala no filme: “ Tu n’as rien vu, à
Hiroshima” (Você não viu nada em
Hiroshima), depois de minutos de imagens de um desenho abstrato de dois corpos
entrelaçados, por fusões e sublinhado por um tema musical, os duplos sentidos
entre frases e imagens se revelam. E nós, o que vemos em Hiroshima?
“Como você, lutei para manter
uma memória inconsolável”, diz a voz feminina. E depois de um vazio, continua:
“ E como você, eu esqueci”.
Memória e esquecimento são a
matéria que desfilam em nosso campo visual.
“L´oubli cmmencera por l’oeil”
( O esquecimento comecará pelo olho), nesse
processo interior, temos o processo criativo: imaginação e esquecimento, memória e
realidade; temas que se mesclam.
Tudo na película nasce do
diálogo destes amantes, e a linha dramática se desenvolve através da memória e
recordação. Deste modo, “a madrugada de amor em Hiroshima” é inseparável da”
madrugada de morte em Never”, no que
fica desta vivência entre espaço e
tempo, que ora se dissolvem ou ora se conectam.
O filme nos faz refletir sobre
a sensação imprecisa da existência, em termos de desejo, sensação e vivência,
do mundo real e do mundo dos sonhos e desejos; um mundo que se forma por
contradições, do passado e do presente, do concreto e abstrato.
Onde o tempo da memória se
faz? Esse é ao meu ver a indagação do filme. Onde o tempo, que não é busca
racional, mas poética, nas livres-associações produzidas pelas sensações,
lembranças, por um inconsciente que se manifesta e perfila o real. Somos a
construção destes paradigmas. Nas falas que se encadeiam como versos de um
poema, no ritmo de um poema. Não é o entendimento que interessa, mas a
expressão que fica; uma parte desse tempo de busca que se instala e se
dissolve, onde nada se explica, mas algo se constrói nas suas entrelinhas.
Resenha: Uma atriz vinda de
Paris para trabalhar numa fita em Hiroshima, tem uma aventura amorosa e revive,
através do amante japonês, a trágica experiência que tivera durante a ocupação
em Never, na França, com um amante alemão.
Juracy
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