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Ano Novo
As memórias
Acabei de abrir o meu diário, e
como sempre me deparo com uma ilustração que coloco na primeira página:- uma imagem
que para mim é indispensável para começar o ano. Uma ilustração de uma pintura
de Bonnard, que graças a essa possibilidade da internet, tornou-se tarefa
fácil. Tenho-a como um mascote, como alguns que carregam seus objetos de preferência. Esta em especial
sempre me aponta algum caminho.
Quando conheci o pintor PierreBonnard (1867-1947), pintor francês, que
pertenceu ao movimento Nabis, do grupo
pós-impressionista, lendo e estudando arte, foi uma
daquelas emoções que todo ser apaixonado senti
ao descobrir o seu amor à primeira vista. Ele é um dos pintores desta
fase , que ainda mais gosto. E, se tivesse que incluir, sem piscar, um trabalho
impressionista nas paredes da minha casa, seria o dele. Na realidade gostaria
de ter todos, grande pretensão a minha. Quando estou vendo alguma exposição, e consta
algum trabalho de Bonnard, sinto que o
dia está ganho. Meu olhar se abre para ver toda aquela atsmosfera de luz e cor,
de perder o fôlego de tanta beleza.
Sem dúvida, amo esse pintor, que
para mim é um gênio da pintura intimista. Além das cores e dos temas, sua alma
e amor pela pintura me emocionam. Ele pintava sua família, mulher e filhas, em
total intimidade. E que outro pintor trouxe essa possibilidade de beleza? Que soube ver com seu olhar amoroso, uma
simples cena, a dimensão da cor em arco-íris, dando a paisagem os seus mil tons
de pinceladas fluídas; uma janela se
transforma em mar, uma mesa em catedral,
há luz e sombra nos ladrilhos velhos e brancos de um banheiro. Tudo era
este cenário, que ele sabia como refletir no corpo inteiro de suas pinturas,
sua alma apaixonada.
Um pintor em estado puro, quase
um deslumbramento infantil. Seu jardim era sua casa: as mesas eram festas,
as toalhas, os vasos, apenas
complementos desta alegria. Seus personagens um domingo de sol radiante na
ponta de seu pincel.
Gosto de todas as suas pinturas, e
se pudesse ter todas elas, como já disse, não excitaria um minuto. E, há uma em
especial, que quando olho, sempre e sempre, lembro da minha infância. Destas
preferências que não se explica, como o ser que se escolhe para amar. A cena de uma tarde, onde os tons de vermelho –alaranjado
está impregnado em todo quadro, e uma menina olha para dentro, talvez brincando
com o seu gato sentado numa poltrona, e me faz lembrar dessas tardes de verão,
eu com o meu cão, brincando no quintal, e que vai até a janela, e se pendura no
parapeito, como equilibrista, esperando
o bolo assando no forno para tomar o seu lanche .
Sinto o odor desse ar de festa,
toda vez que vejo e revejo essa ilustração. Porque cada vez que olho é sempre a
primeira vez. E, as lembranças... porque vivemos destas memórias, elas nos
fortalecem. Elas nos proporcionam um sentido de identidade, arrastando dentro de nós uma estranha felicidade, que sabemos existir
somente dentro de nós, com a singularidade de uma verdade única,
intransferível. Sempre como um clima, um sentimento, um ar que se respira
desses instantes e permanecem eternos, e duram o que dura nos ecos deste
existir. E, esta felicidade que ainda
ressoa, e que de vez em quando me vem – continua magicamente vindo quando me
detenho sobre ela.
Sei que é um lugar de
estranhamento, que não pode ser nomeado, eu não consigo nomear, mas sentir,
porque cada vez que olho é sempre a primeira vez, e deste olhar surgem novas
inquietações.
Estou feliz. Penso: descubro essa
relação incompreensível entre pintura e emoção, uma estranha conexão entre o real
e o imaginário. Olho para essa tela, que acabei de colar no meu caderno de ano novo,
porque sempre a colo na primeira página, e estou ali e não quero perder a felicidade
que sinto ao lembrar . E, por isso escrevo, talvez para recuperar esta
sensação no ar, de uma pintura que me pertence sem a ter, e que viaja comigo.
Adiciono um site para ver imagens deste pintor:
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